Engenharia de Software Sustentável foca-se na mudança de prioridades e abordagem

Montevidéu, 18 de janeiro de 2023.

A sustentabilidade é uma das prioridades nas atividades humanas em geral. Desde o setor tecnológico, pode-se contribuir para construir e executar aplicações de software sustentáveis, que permitam minimizar a pegada de carbono. Isso pode ser possível por meio da utilização de diferentes métodos e ferramentas aplicados no ciclo de vida do software.

A Engenharia de Software Sustentável surge com a finalidade de estabelecer padrões e aplicar as melhores práticas para criar softwares ou aplicações sustentáveis e assim, contribuir para a conservação dos recursos naturais. Através dessa abordagem, é possível reduzir o consumo de energia e produzir menos emissões de carbono.

Essa disciplina baseia-se na aplicação de oito princípios que servem como guia para a construção de sistemas mais amigáveis ao meio ambiente. Seus enfoques estão centrados desde criar aplicações mais eficientes no uso, até mudanças nos protocolos utilizados para a transmissão de dados.

Para conhecer mais sobre essa disciplina, na seguinte entrevista, Martín Miguez, desenvolvedor da Sofis Solutions, compartilha a importância de gerar soluções que contribuam para a redução da pegada de carbono em cada aspecto da aplicação e oferece alguns conselhos para incorporar boas práticas no desenvolvimento de software.

Como surgiu a prática da Engenharia de Software Sustentável?

A sustentabilidade é um conceito que está abrangendo quase todos os aspectos da nossa vida. Isso se deve ao uso indiscriminado que fizemos dos recursos, e que, de certa forma, vemos suas consequências. Entre eles, a Engenharia de Software não escapa a ser parte do problema.

Partindo disso, começam a surgir soluções sustentáveis para otimizar os recursos do ponto de vista da Engenharia de Software.

Qual o papel da Engenharia de Software no Desenvolvimento Sustentável?

A Engenharia de Software pode desempenhar papéis muito importantes nesse aspecto, cada vez mais é visível o impacto que as tecnologias têm na pegada de CO2. Isso pode ser visto principalmente pelo consumo de energia, embora aqui possamos falar mais sobre as fontes geradoras dessa energia, que são a causa principal dessa pegada.

Algo que está claro é que podem ser implementadas tecnologias sustentáveis a longo prazo com uma boa consciência ambiental, desde sua criação e implementação — onde a Engenharia de Software tem papel importante — até sua manutenção e atualização.

Por que é importante implementar práticas de sustentabilidade no ciclo de vida do Software?

As práticas de sustentabilidade ajudam em muitos sentidos, o principal é a diminuição da pegada de CO2, e isso fazemos com ajuda de ferramentas tecnológicas, processos e práticas. Mas também ajuda a gerar consciência ambiental em quem as implementa e compreende.

Outro fator que impacta diretamente é a qualidade do Software, pois essas práticas tentam principalmente minimizar o consumo de energia, o que se traduz em otimizar o uso dos processadores, o manejo dos dados, as interações cliente-servidor, etc. Isso resulta em sistemas mais ótimos, com maior velocidade e mais escaláveis.

Quais são os benefícios de desenvolver um produto e/ou serviço a partir de uma perspectiva sustentável?

Os benefícios são muitos, se falarmos do ponto de vista da sustentabilidade, o benefício direto é a redução da pegada de CO2.

Mas existem outros benefícios indiretos que não são menores, desde o mencionado na pergunta anterior, sobre a qualidade do produto, até benefícios empresariais. Isso significa a aceitação que têm os produtos e serviços desse tipo, devido à crescente consciência ambiental da população em geral, o que pode se traduzir em perder clientes ou usuários por não cumprir determinadas normas de qualidade ambiental.

Como a sustentabilidade pode ser incorporada na prática diária do desenvolvimento de software?

O primeiro passo é criar um plano a nível empresarial, e a partir daí ir gerando práticas e processos dentro das possibilidades para ir construindo uma cultura de desenvolvimento de software sustentável. As práticas e processos podem se traduzir em políticas, ferramentas, metodologias, padrões, entre outros.

E menciono “dentro das possibilidades”, porque a realidade mostra que muitas dessas práticas exigem investimento de tempo e dinheiro. Outro ponto é que depende dos clientes, que podem não concordar com determinadas mudanças ou formas de trabalho porque têm metodologias e processos estabelecidos. Mas é importante destacar que existem muitas maneiras de incorporar essas boas práticas.

Que tipo de boas práticas de software podem ser realizadas orientadas ao Desenvolvimento Sustentável?

Hoje em dia, pode-se observar em algumas empresas o uso indiscriminado de servidores ou PCs (vários ambientes de desenvolvimento, testes, bases de dados de teste, aplicações X, mocks, etc.) que geralmente estão conectados e ligados 24/7. Isso pode ter diferentes soluções, como máquinas virtuais, contêineres ou uso da nuvem. Cada uma delas explora suas capacidades de otimização.

Outra prática que pode ser aplicada no desenvolvimento é otimizar nossos ambientes de trabalho. Dependendo de qual seja, existem configurações que podemos melhorar para minimizar o uso de procedimentos (projetos abertos que não utilizamos, plugins adicionados que começam a gerar processamento, requisições e atualizações constantes, builds automáticos constantes, entre outras coisas). Outro ponto importante dentro do desenvolvimento é o uso da linguagem que cada um possui, muitas vezes estamos acostumados a usar métodos ou funções que sabemos funcionar corretamente, mas desconhecemos que existem outros que fazem o mesmo de forma mais eficiente.

Embora existam ferramentas que nos ajudam com isso, como o SonarQube, entre outras, aqui é importante a capacitação, pesquisa ou feedback dos próprios desenvolvedores, além de gerar algumas práticas ou regras gerais que sigam essa direção.